quinta-feira, 19 de março de 2009

Presente


Bom dia, poeta
Estou, sim, com pressa
Não posso parar
Pra dedo de prosa
Não vê que eu levo
Com muito cuidado
Na asinha esquerda
Uma bela rosa?
Bem sei que esse assunto
Sempre lhe interessa
E talvez lhe rendesse
Um soneto de amor
Mas faça o favor
Não puxe o rabinho
Da minha casaca
Pra me amarrotar
Nem feche o caminho
Que faz diferença
Até um segundinho
Se eu me atrasar
E o meu chapéu jaca
Prum ar mais charmoso
Não amasse com tapas
Poeta teimoso!
Só deixe-me ir indo
Que tenho eira e beira
Que tenho destino
E não posso parar:
Eu tenho pingüinha
Pra ir cortejar
Lá na geladeira
Do Seu Serafim
(taí o endereço)
E ficamos assim:
Procure-me lá
Que até lha apresento
(tão linda e formosa
foi feita pra mim)
Mas só não se engrace
Com fala melosa
Que fico nervoso
E ponho-lhe um fim:
Corto-lhe o papo
Dou-lhe um sopapo
Ou eu não me chamo
Joaquim, o pingüim.

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Essa poesia é uma resposta à poesia/música "O Pingüim", de Vinícius de Moraes, e um presente especial à Nayara, minha querida mocinha mal-humorada.

(e, sim, com todos os tremas cabíveis! rs)

domingo, 15 de março de 2009

Dali aos Seis


A menina de seis anos
Estampada num quadro de Dali
Debaixo de um céu degradê
Sou eu, de fato
Erguendo a pontinha do lençol de água
Que dá de recobrir você.
Vou sondando, visão e tato
Se oculta por baixo da pele translúcida
O Aconcágua
Toda a neve da Rússia
Um álbum de retrato
Um peixe
Um cão dormindo?
Ah, deve ser um domingo
Com fedegoso plantado no meio
Amarelo-florindo
Ou pode ser o labirinto
De um minotauro faminto
Esperando,
Sorrindo.

Mas menina de seis anos
Não fica no limbo
Se cansa de mistério exacerbado
Tem outras coisas no mundo por fazer
Além de erguer o tapete assoberbado
Que dá de recobrir você.
Então, mais por fastio que por medo
Ela solta de vez aquela ponta de mar
Se apruma, sem cerimônia
E se afasta, como lhe convém
Em busca de outros brinquedos
Pois sente na carne tenra
Que ainda é dia
E ainda é cedo.