segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Breve descrição para uma nova anatomia da ausência.



Mais que de carne, osso, veias, unhas, sexo
Sou feita de ausência
Ausência pontuda, calcária
Minha extensão toda negros espinhos rompendo a pele
Vindos dos debaixos da alma.
Não há calma, sempre taquicardia
Nunca é dia, ninguém se aproxima
Do breu, da noite que me tornei.
Me arrasto no movimento quase intangível de mil perninhas
Sobre o chão liso demais das faltas mais fundas.
Dentro da minha noite aguda todos dormem pra sempre
Mudam de posição, sofrem seus espasmos noturnos
Sonham descaradamente
Diante de meus olhos insones
Diante da minha fome
Da minha estranha arquitetura de agulhas escuras
Veneno, inflamação
Chamas, incêndio, sirenes
Enxame de abelhas, canteiro de obras
Escombros
Uma parede emassada ali
Muitos pregos. Um quadro guerniquesco
Mel escorrendo grosso pelo pé direito
Pelo lado de dentro.

Por fora só esse silêncio.