segunda-feira, 9 de junho de 2008

Aborto





Boa tarde, doutor
Vim pedir um atestado
Lavrado, carimbado
E assinado pelo senhor.
É que preciso de uma licença
Desse mundo traiçoeiro
Pra limpar minhas paredes
Daquele sangue vermelho
Tirar um sono sem sonhos
Chorar no meu travesseiro
Bem assim um rio inteiro
Pra levar correndo essa dor.
Deixa-me entrar em crepúsculo
Dá permissão de eu me pôr
E ficar de bruços, de luto
Sobre um livro de Rimbaud
Porque algo brigou com o fluxo
E saiu sem dó, traidor
Pela boca, em horror lúcido
E morreu sem nenhum pudor.
Não tinha nome, o pequeno
Mas se tivesse crescido
Pegado corpo, alma, cor
Dentro do meu peito-abrigo
De cada um dos meus poros
Ele teria nascido:
Onda de arrepio
Ou desabrochar de flor.
E o nome dele seria
Um nome simples, doutor
(João, Pedro, José)
O nome seria Amor.

17 comentários:

Renata Mofatti disse...

Olá Milena,

Vim fazer uma rápida visita a seu blog, mas me perdi na sala de estar de letras tão convidativas... E, ficarei por aqui, mesmo sabendo que há tantos lugares pra onde (ou aonde?) ir...

Agradeço a estadia!

Parabéns!

Daniela Parajara disse...

"O nome seria Amor."

mas se não foi, não era pra ser uai!

e meu versinho procê aquele dia foi até a metade sem querer, ai depois fui continuando, mas tudo verdade!

;)
beijosss, adorei te ver mais no fim de semana.

Alex Theodoro disse...

Visceral.

Alex Theodoro disse...

<-
Doutor
Senhor
Dor
Pôr
"Rimbaud"
Traidor
Horror
Pudor
Cor
Flor
Amor

->
Pedir
Limpar
Chorar
Levar
Entrar
Ficar
Desabrochar...

Anônimo disse...

ooooooow, beautiful!
i loooove the things you write!
and those things are written by me :)

Larissa Dardengo disse...

=)
Eu queria saber escrever poesia!

Ah sempre coisas boas de se ler.
bjs

Vinicius Langa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
henrique disse...

eu queria comentar, mas fiquei totalmente sem palavras...


parabéns, moça.

Anônimo disse...

É amore, continuo abismado, cada vez que penso em vir e aqui descansar meus pensamentos nos remansos de suas linhas, fico mais absorto no que tu tens a dizer...

só digo mais uma, o livro tem que ser autografado!

em linhas gerais: pocô de novo mulé!!! show!
rsrsrsrs
bjos

Ale disse...

Milena, vamos fazer uma troca? Eu te ensino mais umas músicas no violão e vc me ensina a escrever bonito assim. Que tal? rs

Perfeito, novamente. Quanto mais eu leio, mais me encanto.

Beijos!

Larissa Dardengo disse...

Ei moça..
O endereço do meu blog mudou.
=*****

Kamila Zanetti disse...

perfeito mi...

Unknown disse...

adoro sua poesia

Fernanda Fassarella disse...

Encantador e arrepiante!

Viva de poesia, você pode!
=)

Beijoooo

RUTE disse...

Oi Milena,

Tou morrendo de curiosidade de ouvir esse texto musicado!

Se já assim tem tanta musicalidade, imagino em formato de cantiga!

Adorei este pedido de licença, feito ao mundo traiçoeiro para limpar as paredes interiores de vermelho... Poesia muito forte. Plena de significado.

Mudando de assunto, já assistì ao Blindness. Gostei bastante, para mim foi um complemento ao livro. E ao mesmo tempo uma nova abordagem. Postei à cerca e irei postar mais 1 ou 2 artigos sobre a Cegueira de Saramago. Quando puder passe lá. Traz a sobremesa :-))

Beijinho além-mar.

Hebrain disse...

pqp

assim dá vergonha até de acordar

= )

eueoutrasdemim disse...

era solitária até descobrir em poucas letras a doçura de não ser solidão. amei! meu blog: http://eueoutrasdemim.blogspot.com/