quarta-feira, 17 de junho de 2009

Bolero



Em nossas caras sãs
O que vejo é isso:
Você segue muito bem
E eu tampouco lhe preciso.
E esse é um ponto pacífico
Em todas as amplas dizências
De comum acordo
De paz mesmo
De oceano de transparências
Nas coisas que se sabem sem esforço.
Daí é um sossego
Uma delícia de desapego
Melhoro da vista e do juízo
Uns bons graus antes perdidos
Vivo espaçosa em mim mesma
Num vai e vem de liberdades
Acendendo idéias
Ordenando fatos
Limpando uns cantos empoeirados
Tomo decisões num átimo
Planejo, ouso, arrisco
Enfim, o máximo.

Mas se acontece de você pousar
Essas órbitas sonsas sobre mim
É o fim.
Fico em evidente perigo
Por dentro reverbera um bolero
Brota-me uma rosa entre os cabelos
Túrgida de uma antítese infantil
Vermelha e sem mistério:

É que eu não preciso
Mas quero.


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(tela de Matisse - Odalisque)

12 comentários:

Flávio Borgneth disse...

Deve ser bom ter uma saia rodando bolero dentro da gente. Se uma rosa escurregar no passo e sobrar no palco, melhor ainda!...

Márcio Jorge disse...

Forte e encantador! Lindo poema e muito bem ilustrado pela obra de Matisse. E o livro, quando sai?

Beijos.

Ludmila Clio disse...

Ah, as antíteses...
o que nos move senão elas?
Mais uma vez você brilhou em linhas carregadas de tudo aquilo que sentimos e não sabemos como dizer!
Bjo, querida!

Unknown disse...

Boa noite, amiga!
Eu tinha que dar uma passadinha por aqui também, só pra desENCUCAr.
Brilhante!!!
Bjs e boa semana (produtiva)
PAZ!!!

RUTE disse...

Terminei de ler o poema com um sorriso rasgado.

É que me revi nessa personagem, desapegada, vivendo espaçosa em si mesma,(...)acendendo ideias, ordenado fatos...

Mas vunerável ao amor e ao contacto. "É que eu não preciso, mas quero :-)"

Beijo querida. Obrigada por não se esquecer de mim e do meu blog.
Dê noticias do seu livro? Já saiu publicação?

Também ando com uma vontade de publicar livro de receitas...

Daniel. disse...

hummmm. achei sensual, uma coisa, um amor bem resolvido, mas que ... mas que ... pode ascender a qualquer momento ou a qualquer musica, ou bolero... ou samba...

Tiago Ribeiro disse...

Ótimo, Milena!

Além de tudo, você trabalha as assonâncias bem por demais.

Fernanda Fassarella disse...

querer sem precisar. esse é o segredo. =)

Anônimo disse...

Ei Milena,
Li a entrevista na revista e deu vontade de olhar. Agora, passo sempre. Que só de ouvir bolero e esquecer de carma, já deixou a alma mais leve.
Abraços e muitos parabéns. Sua arte tá linda!
Betânia

Ronni Anderson disse...

Vc arrasa!
Gente, e eu fui aluno dela!
The best English Teacher that I've ever known!
(By the way, I have lots of news to tell you about my English life!) kkk

Hey, Beautiful Songs above this post!

Keep on visiting me at my blog!
Hugs! Thousand of them!

João Luiz Araujo disse...

li agora reportagem no caderno 2 de A gazeta sobre o lançamento do seu livro "catar-se".e resolvi visitar seu blog,muito bacana mesmo!!!sucesso ai no lançamento do seu livro,valeu?
grande abraço!!!

Luiz Carlos Cardoso disse...

Nossa! Gozei!