segunda-feira, 23 de junho de 2008

Escute, Adélia




“O que vai viver, espera”
Você diz
Eu também guardo um sol ocluso em mim
Guardo, secretas, esperas sem fim
(outras nem tão secretas assim)
Por exemplo, isso bolinando meu nariz
Essa impressão de cheiro
Cheiro de tempero de comida boa
Cheiro de sabonete de bebê em banho quente
Depois de dia cheio
Cheiro bom dele, todo faceiro
Cheiro que penso que sei bem
Mas que se cumpre só pessoalmente
Reconheço-o, porém, como ninguém
Mas só depois da espera.
Ah, Adélia...
Eu espero, muito séria
E me conluio com tudo mais que espera:
Os livros com marcadores na estante
A folha por um triz ao vento, vacilante
A semente doida pra que alguém a plante.
Mas uns dias me visto de laranja berrante
E me posto ali, de saco cheio
Esperando que alguém se levante
Venha correndo da platéia
E acabe logo com essa pilhéria
Com minha cara de caixa de correio.
Pensando bem, Adélia
Esperar pra viver é pra pinto mal chocado
Coitado
De tanto esperar vira omelete
Vira quindim de padaria e claras em neve
E disso aí eu morro de receio.

Então não tiro o meu laranja, fato:
Em matéria de vida e seus janeiros
Não tenho vocação pra feriado
Quero ser dia útil o ano inteiro.










11 comentários:

Paixão, M. disse...

Ó quem provocou:

"O ovo não cabe em si, túrgido de promessa
A natureza morta palpitante.
Branco tão frágio guarda um sol ocluso,
o que vai viver, espera."

Adélia Prado.
Simplesmente adoro.

VaneideDelmiro disse...

Belo poema! Belo lugar! Não se trata de promessa, quero e vou voltar! Parabéns pelo blog!

Renata Mofatti disse...

Ebaaaaaaaaaaaa!!!!

Hj é terça-feira... Dia de atualização!

“Os livros com marcadores na estante” Meu Deus! Isso é lindo!
Se eu soubesse dar conselhos eu diria: o mais interessante é a espera!
Oh, Adélia!!!
Que tal atualizar umas três vezes por semana???

Unknown disse...

quatro

Larissa Dardengo disse...

Ah eu queria, querai saber escrever sonetos e poesias, mas só sei rabiscar uns sentimentos sufocantes e algumas histórinhas provocantes.

Tinha um tempinho que eu não vinha aqui..
;)

bjs

Marcelo Grillo disse...

"Não tenho vocação pra feriado
Quero ser dia útil o ano inteiro."
Isso é ótimo, guria... rsrsrs
Pedaços de Mim

Kamila Zanetti disse...

isso me cheira a revolta.rs :)

beijos moça das belas palvras

Kamila Zanetti disse...

palavras* ¬¬

Anônimo disse...

Que poema lindo, Milena! Adorei a leveza das imagens que você cria e nos convida pra sentir. :)

Ale disse...

Ei Milena, o seu livro vai ser publicado quando mesmo???
Belíssimo poema, merece ser declamado no próximo encontro do Encuca, hein...

bjos!

Cecília disse...

Gostei daqui!