Sozinhez é sina
E não vem da sala vazia
Nem da cadeira sem sentante
Nem do bodoque sem menino
Ela não vem de cima
Feito castigo divino
É destino
É por dentro
Nascida e crescida
Banhada em ungüento
De batismo
É cataclismo
Silencioso
Que quase mata
Mas não
(a sádica)
É calo na ponta do coração
Pendendo pro lado esquerdo
E, esporádica,
Causa inquietância
Medo
Sede
Transparência
Ou cor da mais próxima parede.
Sozinhez é amiga de infância
Mal de filho único
Ou de quem tem mais irmãos
Que os dedos podem contar
E, cadela, é mancomunada
Com todo o silêncio que há
Nos telefones que não tocam
Nas cartas que não chegam
Nas pessoas que não sentem saudade
Nem nada.
Sozinhez não é coisa de idade
É marca de nascença na testa
É maldade
Da simples natural seleção
É festa
Em sótão cheio de fantasma
Esse calo pressionando o pulmão
Essa falta de ar que me pasma.
Sozinhez é asma.