domingo, 13 de abril de 2008

Conversa fiada












Tarde fresca. Um silêncio de ouvir chinelo arrastando na calçada e o som do rio, que ninguém mais ouve, pois que virou barulho contínuo inerente à vida de cá (feito bem coração batendo) e carece de atenção que só surge de uma tarde assim pra ser redescoberto. Então, no meio dessa tarde aí, dois passarinhos levando um biquinho de prosa:


- Como vai a família, compadi?


- Vai bem, vai bem. Ontem o caçula soltou um ré bonito de doer.


- Ô, que bom. Já a patroa minha anda tão bemolrenta, não sei bem o que faço. Não gosta dos meus andaços, mas já disse pra ela que num sou ararinha-azul, não. Mas que idéia dessa fêmea! Gosto da minha vida boêmia. Sou bico-de-lacre, beijo-de-moça, moça gosto de beijar.


- É, meu compadi, não sei o que te falar. Mas mulher é assim mesmo, e eu gosto da minha patroa. Levo comida boa, sábado a gente voa à toa, deixa os pequenos com a vó.


- Eu também gosto da minha, às vezes sinto dó. Mas ah, a Mariazinha, ô, rolinha fogosa. E a Carminha, a beija-flor? Ai, aquela é tão esbelta, e vive com um cheiro de rosa...


- É, tô te entendendo...


E foi só isso que ouvi. Depois ficaram ali, pensando seus pensamentos.

2 comentários:

Caetano disse...

esse leio sem cansar, várias vezes. sempre me leva até burarama. uma paz nostálgica que fica na gente, com cheirinho de infância.

continue sempre assim.
beijnha, paixão

Renata Mofatti disse...

"dois passarinhos levando um biquinho de prosa" Ambiguidade perfeita, pão-de-sol!