
Nunca
Nunquinha na vida
Eu havia pensado coisa tão louca
Quanto um varal,
daqueles mesmo (náilon, pregador)
Servindo pra coisa além de pôr roupa
Tapete, bicho de pelúcia, cobertor.
Pois que acredite quem quiser
Porque não foi engano
E nem tentem me convencer
De que era boneca de pano.
Convencer a mim, leitora de Lobato
Habituada com a Emília
Vai ser ato malfadado:
Sei ver bem as costuras
Cabelo de lã, sorriso de linha
Não é loucura
Teatro, filme
Nem pantomima
Aquilo era – eu juro – uma menina.
Menina bem pequena, é verdade
Mas alguma explicação tem:
Ela deve ter encolhido
Pra não causar alarido
Pra caber certinho nas mãos
Ou no coração de alguém.
Ou se encolheu foi por dor
Que só ela mesmo conhece
Pois vou dizer do que acho
Que essa menina carece:
Carece de esquecer essa mão
Que a pendurou ali na corda
E se sacudir um pouquinho
Que o grampo logo se solta.
Se ralar joelho no chão
Assopra, limpa com a mão
E joga na lata de lixo
Ponto de interrogação.
Vida é certeza, menina.
Não do que vai vir, mas do agora.
Se fica olhando pro lado,
O olho buscando o passado
Ou tá vivendo errado
Ou deixando vid’embora.