terça-feira, 15 de abril de 2008

Sete da Manhã















Quando em vez, eu tenho esse sonho estranho em que sou um pé de cássia-rosa.

E nos dias em que me sonho árvore, acordo inteira vontade de que façam ninho no meu ombro. Agüento firme o ardor das querências de dar de respirar, comer, morar, de fazer sombra, explodir em frutos e nunca ter que ir. Fico devaneando passar por todas as estações do porvir, sem perder nada da essência de ser, simplesmente, árvore - e suspiro por aí cada beleza erradiça: uma folha amarelando, um galho seco, um fruto meio comido enegrecendo já.

Nesses dias chega dói acordar: espeta por dentro um amor-árvore cheio de raízes. E iludem-me, sonsos, os amores-pássaro, os amores-chuva, os amores-vento. E é bem nessas horas que penso:

Que é que ficaria lento, bento feito relicário guardando coração?

Sei não. Mas acho que é logo às sete da manhã que o mistério se encerra:
Nos dias assim, acordo com as mãos, as plantas dos pés, o vão sob as unhas
Castanhos de terra.

3 comentários:

Anônimo disse...

vontade de ter alguém pra me falar essas coisas no pé do ouvido...

Renata Mofatti disse...

A minha receita de amor, é amor-papel. Nele eu rascunho minha vida e quando fico de "saco cheio" jogo no lixo. Compro um bloquinho colorido, capricho na cor da caneta e pronto: estou pronta para outras letras...

Marcelo Grillo disse...

"Eu sinto amor-árvore cheio de raízes..." Isso é amor. As sobras desse amor-árvore, um sub-produto, vira amor-papel, que o vento leva... Isso é apenas rabisco de amor.