quinta-feira, 17 de abril de 2008

Menina no Varal




Nunca

Nunquinha na vida

Eu havia pensado coisa tão louca

Quanto um varal,

daqueles mesmo (náilon, pregador)

Servindo pra coisa além de pôr roupa

Tapete, bicho de pelúcia, cobertor.

Pois que acredite quem quiser

Porque não foi engano

E nem tentem me convencer

De que era boneca de pano.

Convencer a mim, leitora de Lobato

Habituada com a Emília

Vai ser ato malfadado:

Sei ver bem as costuras

Cabelo de lã, sorriso de linha

Não é loucura

Teatro, filme

Nem pantomima

Aquilo era – eu juro – uma menina.

Menina bem pequena, é verdade

Mas alguma explicação tem:

Ela deve ter encolhido

Pra não causar alarido

Pra caber certinho nas mãos

Ou no coração de alguém.

Ou se encolheu foi por dor

Que só ela mesmo conhece

Pois vou dizer do que acho

Que essa menina carece:

Carece de esquecer essa mão

Que a pendurou ali na corda

E se sacudir um pouquinho

Que o grampo logo se solta.

Se ralar joelho no chão

Assopra, limpa com a mão

E joga na lata de lixo

Ponto de interrogação.

Vida é certeza, menina.

Não do que vai vir, mas do agora.

Se fica olhando pro lado,

O olho buscando o passado

Ou tá vivendo errado

Ou deixando vid’embora.

2 comentários:

Renata Mofatti disse...

"Pra caber certinho nas mãos
Ou no coração de alguém."

MEU DEUS!!!

Marcelo Grillo disse...

Há tantas meninas-moças dependuradas em varais, balançando ao vento... com medo de se soltar e cair diretinho nas mãos ou no coração de alguém... Tuas palavras passam espontaneidade e são colocadas na medida certa, integralmente. Não gosto de metalinguagem nem de meias-palavras... Tu escreves bem!
Marcelo Grillo