terça-feira, 15 de abril de 2008

Uma Carta






É assim que lhe conto

Que entrego meu coração.

Voz parece que vem arranhando pela garganta,

E acho que nunca me acostumei com ela.

Nasci mal-acostumada.

Devo ter tido preguiça de chorar,

Ou devo ter chorado tanto

Com tão pouco tamanho

Que me cansei cedo.

Me cansei.

Tinta desliza fácil

E letra é desenho tão bonito,

Que me inspira a dizer mais.

Digo e vou dizendo pra sempre

Feito rio sinuoso cortando um país

Continente

O mundo

E paro só por causa do pulso

Esse fraco

Que tem pulso-forte sobre mim

Sobre minhas vontades.

Dentro de mim o que guardo

É um pedido de perdão aos que precisaram da minha voz

E não tiveram.

E inveja de quem diz com tanta eloqüência:


“não”

“te ajudo”

“é o seguinte”

“sim”

“te amo”

“fica mais um pouco”

“mas me explique melhor”


Está tudo dentro de mim.

Mas nem sempre há caneta e papel.

Só queria escrever com os dedos

Sobre a pele de alguém.

2 comentários:

Renata Mofatti disse...

O que muitas vezes não conseguimos dizer cara a cara, escrevemos papel a papel! Fica mais fácil e mais revisado por temos o tempo suficiente passar uma borracha!

Marcelo Grillo disse...

A ferro e fogo, gravar nossas letras sobre a pele de alguém, uma tatuagem com nossa caligrafia. Indelével em vida. Mas também podemos escrever na alma. Mais indelével ainda, pois é eterno.